*O título desse texto é um trecho de uma composição de Jorge Drexler, músico uruguaio que dedicou uma música à Bolívia. Ele homenageou o país que acolheu seu pai e seus avós quando tiveram que fugir da Alemanha Nazista.
Há uma viagem que é bem comum entre os viajantes. Trata-se da do trajeto do Chile para a Bolívia, ou melhor da travessia do Atacama até o Uyuni.
A travessia é conhecida por ser difícil e cansativa, o que me deixou desanimada, porque eu nunca tinha feito algo parecido.
Para ficar mais tranquila, pesquisei muito na internet sobre essa travessia. Há muitas experiências de outros viajantes e poucos são animadores. Para falar a verdade achei inúmeros comentários negativos sobre esse trajeto
O número de relatos negativos é tão grande, que chegou a me desanimar, mas algo em mim gritava mais forte; Algo me implorava por aquela viagem, então eu aceitei o meu chamado, pois mesmo sem saber eu precisava daquilo.
Ao embarcar nessa aventura, deixei de lado todo o conforto e o preconceito. Abri o meu peito para ir de coração aberto.
Aliás, esse é o conselho que dou: deixe de lado todo conforto, todo preconceito e vá de coração aberto.
A viagem é relativamente curta, mas inesquecível. O ponto de partida é o deserto do Atacama e vai até o Uyuni. Toda a travessia durou quatro dias e três noites.
Início da aventura
Logo na imigração, fiz alguns amigos que me acompanhariam durante os próximos dias. De início,o assunto era sempre o mesmo “será que vamos conseguir nos alimentar bem? será que vai ter como tomar banho? Onde vamos dormir?”.
E por incrível que pareça essa viagem superou todas as nossas expectativas. Parecia que tínhamos lido aqueles relatos sobre experiências negativas sobre outro lugar e não sobre a Bolívia.
As paisagens naturais são incríveis e o seu povo é de uma hospitalidade grandiosa.
Foi na primeira parada daquele lugar, na Laguna Blanca, que eu sentei numa pedra e comecei a refletir sobre a vida. A pensar como somos pequenos diante desse mundão e que não sabemos de nada. A gente quer ser tanta coisa e muitas vezes acabamos não sendo nada.
Foi nessa viagem que comecei ressignificar muita coisa. A pensar nas coisas que eu carregava comigo, quem eu queria ser e o que faria da minha vida depois dali.
Comecei a pensar em tudo que acumulei na vida e na liberdade única que senti naquele momento. Sempre fui livre, mas a liberdade que senti naquele lugar foi incrível. Talvez pelo contato tão próximo com a natureza e com os locais.
Entrei em lugares tão lindos que parecem cenário de filme, de tirar o fôlego.
Posso considerar que essa foi uma viagem transformadora na minha vida.
O trajeto durou 4 noites e 3 dias e a natureza deu um show. Passamos por vários desertos, lagunas, conheci animais nativos, ouvi histórias, bebi bastante água, masquei muita folha de coca, passei muito filtro solar e alguns perrengues na hora do banho.
Mas continuou sendo incrível.
Conselho para os próximos viajantes – Solos ou não
Logo no início falei que li vários comentários, né? Isso só me deixou mais insegura, mas foi essencial para que eu ficasse mais atenta.
O conselho de outro que eu tenho é: busque muitas fontes de informações mas não se prendam apenas a elas. As fontes servem como aprendizados, servem para ligar aquele alerta que faltava na nossa mente, mas não se prendam a ela.
Na época do Uyuni li que várias pessoas ficaram sem se alimentar direito, que os motoristas dirigiam alcoolizados e que o banho não existia. E comigo não aconteceu nada disso, pelo contrário. Comi muito bem, tomei banho todo dia e o motorista foi um guia incrível.
Então é isso: fique alerta, tome cuidado, não subestime a sua segurança e aproveite.
Não deixe o medo ser seu guia.